sexta-feira, 2 de junho de 2017

Transformação da Reserva Biológica em Parque Nacional precisa ser debatida por todos

    Uma polêmica envolvendo uma das maiores riquezas naturais do planeta, que está situada em Nova Iguaçu e em municípios vizinhos, deveria ampliar o debate sobre a necessidade de manter Tinguá como uma Reserva Biológica e não como um Parque Nacional, o que colocaria em risco todo este complexo de belezas exuberantes e a preservação do seu patrimônio natural.
     Tinguá é importante fornecedora de água para o Rio de Janeiro e Baixada Fluminense. Como bacia hidrográfica auxiliar a do Rio Guandu, 60% de seus recursos hídricos são canalizados para o Rio de Janeiro desde a época do Império, quando braços escravos realizaram as obras de bombeamento das nascentes do Rio Tinguá para a sede da Corte Imperial, que sofria uma grande seca à época, fruto do desmatamento ocasionado na Floresta da Tijuca.
     Sob a supervisão, então, do engenheiro Paulo de Frontin que prometeu ao Imperador D. Pedro II que a água chegaria às torneiras cariocas em 7 dias, o empreendimento foi realizado e até hoje cumpre uma função social vital e das mais importantes para o Rio e para a Baixada. 
     Em razão desse rico manancial de água e de sua biodiversidade de flora e fauna – vale lembrar foi em Tinguá a descoberta, em 1965, do “sapo-pulga”, o menor anfíbio do mundo -, a região foi classificada pela UNESCO (órgão das Nações Unidas) como um Patrimônio Natural da Humanidade, na categoria de “Reserva da Biosfera”, o que difere de Parque Nacional. Além disso, quais os benefícios de transformá-la em “parque nacional”, iniciativa que pode se tornar-se uma ameaça concreta de destruição desses recursos naturais? Segundo ativistas na área ambiental, a fragilidade de Nova Iguaçu é tamanha que para a sua proteção, pode se ver como exemplo o que sequer conseguem evitar as queimadas da Serra de Madureira. Isso deveria servir de alerta ao que pode acontecer com Tinguá e com o seu patrimônio natural.
     Caso transformada em Parque Nacional, o risco de incêndio e poluição das suas matas aumentam consideravelmente e a cidade não está preparada. Não possui sequer um Batalhão Florestal para combater possíveis casos de incêndio. Um exemplo disso é o próprio Complexo de Gericinó, que mesmo diante da frente da Prefeitura de Nova Iguaçu, sendo um Parque Municipal e ocupando uma parte central da cidade, com frequência é visto ardendo em chamas por horas e horas e, em alguns casos, até dias e dias queimando diante dos olhos de toda a população.
     No caso de Tinguá, a existência das linhas de oleoduto e gasoduto da Petrobras que atravessam o subsolo da floresta potencializaria uma imensa queimada em caso de acidentes ocasionados por visitantes. E a empresa Petrobras, por sinal, nunca acenou com qualquer tipo de ajuda financeira ou contrapartida para a preservação da região, apesar de fazer uso de seu território no transporte de óleo e gás através de dutos. O mesmo se dá com FURNAS Centrais Elétricas, que possui torres de transmissão de energia instaladas na Reserva Biológica do Tinguá, mas não pratica qualquer ação de compensação ambiental para a manutenção daquela importante biota de Mata Atlântica.
    Por todos esses motivos, a instalação de um “parque” em Tinguá deve ser amplamente discutido com a população. Deveria ser fruto de amplo debate, inclusive com a participação de meios acadêmicos e de organizações ambientais. Instituído o Parque Nacional, ele restringirá o acesso à floresta apenas àqueles que puderem pagar para entrar e contemplar a sua exuberância cênica. Como Reserva Biológica, Tinguá tem acesso gratuito para a população, bastando para isso um pedido formal de visita, encaminhado à direção da unidade. Pesquisadores científicos também realizam importantes estudos na região, que também pode ser frequentada por grupos de estudantes e professores, buscando a promoção da Educação Ambiental. 
    O que os defensores da recategorização da Rebio-Tinguá para parque nacional não falam é que, uma vez virando parque, o ingresso à floresta será cobrado, mas se houver danos eles atingirão a todos.
    No entorno do Tinguá, vive uma população pobre e carente, que não dispõe de recursos financeiros para pagar pela entrada num eventual futuro parque. Como Reserva Biológica, o acesso é inteiramente GRATUITO, bastando apenas a formalização de um pedido encaminhado à chefia da Unidade de Conservação. Ou seja, a criação de um parque em Tinguá vai elitizar o acesso à floresta apenas para quem tiver dinheiro para pagar pelo ingresso.
    Outro dado importante e que serviu também para a criação do Tinguá como reserva biológica foi sua imensa biodiversidade de flora e fauna com inúmeras espécies ainda não catalogadas pela Ciência, além de muitas em processo de extinção, como a onça parda e algumas espécies de gavião, sem citar a ave macuco (cuja imagem é símbolo da Rebio-Tinguá), o mineral Tinguaíto, a madeira tapinhoã e a bromélia, endêmicos em Tinguá.
    Por esses e por outros motivos o debate sobre Tinguá virar um Parque Nacional, mesmo Nova Iguaçu possuindo um Parque Municipal, todas as opiniões de pessoas e órgãos ambientais deveriam ser consultadas levando em consideração os riscos que podem causar a este imenso patrimônio.
Portanto é importante a participação do máximo de pessoas no que será debatido, afinal esse é um assunto que afeta a todos, em especial a população iguaçuana. A Premira Jornada O evento acontecerá no dia 6, no auditório multidisciplinar da UFRRJ em Nova Iguaçu, de 9h às 13h.

Pois é!!!

Hoje motoristas de vans iinvadirão o Paço Municipal para protestarem contra o impedimento de vans circularem no Centro de Nova Iguaçu. Isso...